21 de nov. de 2010

nostalgia




Nostalgia:(francês nostalgie) s.f. 1.Melancolia, tristeza causada pela saudade de sua terra. 2.Saudade do passado, de um lugar etc. 3. Estado melancólico causado pela falta de algo.

E então o que foi ontem não é mais hoje. As ondas sonoras do riso, dos segredos, das piadas, se perderam. A presença se tornou ausência e o presente virou recordação.
Incessantemente, volto minha atenção para o relógio, objeto irritante que insiste em congelar o tempo qundo o que eu mais quero é que os dias passem voando e quando da minha necessidade de pará-lo, atira o tempo pela janela e em poucos minutos lá se vão dias.
Contudo, aguardo. Os "tics" e os "tacs" já não possuem efeito sobre o meu autocontrole. Desconheço a ansiedade e a aflição, me concentro apenas no que é, e é a espera. A espera do regresso, do reacontecimento, da repetição.
Fatos, vídeos, cartas, bilhetes, objetos simbólicos, palavras ressoantes ou apenas lapsos de memória são tantos quanto são as ausências. E tão intensos quanto foram as presenças.
E toda intensidade que ficou, não se compara ao vazio que foi deixado.



11 de nov. de 2010

frivolidades





Fazia um dia nublado. Olhei pela janela e a chuva começava a cair em gotas finas que escorriam pelo vidro. Fechei a cortina, voltei a me enroscar no edredom e me aconchegar nos travesseiros. Fechei os olhos, a casa estava silenciosa. Nenhum ruído que indicasse a presença de mais alguém, tudo que eu podia ouvir era o barulho da chuva que aumentava lá fora e me trazia uma estranha sensação de paz.
Senti um arrepio percorrer a minha espinha quando ouvi meu celular vibrar sobre a mesinha de cabeceira. Era uma arrepio característico, um velho conhecido que me visitava sempre que ele se fazia presente, fosse em pensamento ou em pessoa. Automaticamente, meu coração acelerou e meu cérebro deu uma ordem à minhas supra-renais que liberaram uma dose extra de adrenalina no meu sistema para que eu saísse do estado entorpecido no qual me encontrava.
Atendi.

Olá.
Oi, tudo bem?
Tô bem, como você tá?
Bem. Eu te acordei?
Não.
Então por que a voz de sono?
É voz de preguiça. - ri
Nós vamos sair hoje?
Você quer sair?
Sim.
Então nós vamos sair. - esbocei um sorriso involuntário
Mais tarde eu te ligo, tipo umas 19h30.
Tudo bem, 19h30.
Beijo.
Beijo.

Segurei o celular com força. Eu tinha adquirido essa mania recentemente, mais um hábito diretamente proporcional à minha, nossa relação. O arrepio se fora, minha pulsação permanecia descompassada apesar de estar voltando à normalidade. Já era rotina mesmo que eu não me acostumasse, e eu não quero me acostumar.
Ainda podia sentir o que ficou dele em mim, resquícios dos últimos meses, que permanecem. Me encolhi com um vento frio que deve ter entrado por baixo da porta, e então lá estava, o cheiro. De todos esse é o meu resquício favorito, o mais real, o que me causa mais arrepios e que, para minha sorte - ou azar, está impregnado em mim. No meu cabelo, na minha pele, no meu córtex¹.
Pode parecer uma coisa pequena, insignificante. Mas coisas sem importância não costumam afetar as pessoas, nem causar-lhes tantas sensações, ainda que sejam as coisas frívolas as que mais tem valor. Tanto é verdade, que me esqueci da chuva, agora já uma tempestade que com seus raios e trovões, com suas rajadas de vento gélidas e todo volume de água que despeja sobre a cidade não é mais forte que o meu pequeno resquício nostálgico.
No qual volto a me concentrar, e abraçando um dos travesseiros mergulho novamente no torpor das minhas memórias, na penumbra do meu quarto e no eco silencioso da minha casa. Aprisionando a minha ansiedade pelas 19h30.


¹córtex: área do cérebro responsável pelo olfato e pelas memórias.