14 de jan. de 2011

racionalismo.

- A verdade é que apesar de tudo você simplesmente nunca pediu que eu ficasse.

Dito isso, saí mais uma vez por aquela porta, no mesmo horário, com os mesmos passos firmes, com o costumeiro medo de me atrever a olhar para trás e - pela primeira vez - com lágrimas nos olhos. Apertei frenéticamente o botão do elevador, nada. A escada pareceu uma boa ideia para me ajudar a espairecer, descalcei os sapatos e segurando-os pelos saltos inicei a minha descida.
Passei os primeiros degraus com uma pressa absurda, uma necessidade incontrolável de sair daquele lugar. Mas, aos poucos, os motivos que me levaram até lá - e eram tão mais fortes do que a minha raiva, do que a minha vontade de sumir dali e nunca mais voltar - me fizeram desacelerar o passo e por fim parar. Possuída por uma certa exaustão que eu não sei de onde veio deixei cair os sapatos, a bolsa e desabei. Apoiei a testa sobre os joelhos e deixei escapar tudo que eu vinha guardando, escondendo, disfarçando de mim mesma. Não sei por quanto tempo eu fiquei sentada chorando e ouvindo o eco dos meus soluços, eu só me dei conta de onde e como estava quando o frio começou a me incomodar.
Peguei as minhas coisas, segurei no corrimão e me içei do chão. Terminei a minha descida automaticamente, com o olhar perdido sem prestar muita atenção ao meu redor. Ignorei o porteiro, que como em todas as vezes me desejava um bom dia enquanto me abria a porta de um táxi. Fui para casa.

Parei diante da porta do meu apartamento e fiquei mexendo com as chaves, não sabia se entrar seria o melhor a fazer, porém ficar na rua não era uma opção. Eu poderia ir à casa de alguém, mas a última coisa que eu queria era incomodar meus melhores amigos com meus problemas recorrentes e aparentemente sem solução. Abri a porta, estava exatamente da maneira como eu o havia deixado na noite anterior. Não que eu esperasse ou desejasse que estivesse de outro modo, a minha esperança era por uma mudança inesperada em mim, internamente. Joguei a bolsa no sofá, soltei os sapatos sobre o chão e as chaves na mesinha de centro, peguei o celular: 15 chamadas perdidas, todas dele. A luz do telefone piscava, 5 novas mensagens na secretária eletrônica. 5 novas mensagens que eu não queria escutar, mas que eu sabia que mais cedo ou mais tarde eu acabaria ouvindo, resolvi me adiantar. Apertei o botão e me sentei na poltrona.
Conforme as palavras ganhavam vida ao serem reproduzidas pela máquina eu me encolhia e sentia um nó na garganta. Mais pedidos de desculpas, mais explicações, mais tentativas de consertar erros antigos. E a pior parte é que mais uma vez eu me deixava levar, me dispunha a acreditar que podia estar certo, que era um engano, uma precipitação desnecessária.

Eu sei que tenho cometido muitos erros ultimamente, aliás nós temos. Mas existem coisas mais importantes, quando você está aqui por exemplo.

E um outro exemplo seria quando eu vou embora sem a menor cerimônia, como hoje, como sempre e o máximo que você faz é dizer que me liga mais tarde. Eu queria que você me ouvisse dizer isso, que me ouvisse dizer as coisas que eu digo para as suas mensagens eletrônicas e que perdem completamente o propósito quando eu tenho a chance de te obrigar a ouvir.

Nós vamos resolver isso, eu sei que vamos. Eu am...

Desliguei o telefone. Por mais que eu quisesse ouví-lo dizer que me ama, que vai dar tudo certo e todo o discurso corriqueiro, dessa vez não tinha volta. Olhei ao redor, todas as minhas coisas dentro de caixas lacradas, só faltava a companhia de mudança vir e levar os móveis e todo o resto. Durante os últimos 3 anos eu quis que alguma vez ele realmente agisse da maneira como ele dizia sentir e pensar. Mas agora, isso não importa mais. Tivemos uma última chance hoje pela manhã e fracassamos. Sim, nós, porque eu poderia simplesmente ter dito o que eu queria que ele fizesse, mas não disse.

O interfone tocou. Os homens da mudança tinham finalmente chegado.

Eles já haviam embarcado quase tudo, eu estava pronta para ir. Chamei um táxi na rua, quando ia entrando ouvi minhas preces serem atendidas. Ouvi chamarem meu nome, o ouvi me chamar.
Me virei agradecida e lá estávamos, parados nos encarando.

Eu devia ter percebido antes, eu não devia ter deixado você sair. E mesmo que agora seja tarde demais, eu vou entender qualquer que seja a sua decisão, mas eu não podia te deixar ir sem tentar.

Não disse nada, apenas esperei que ele concluísse.

Fica, por favor. Não por mim, nem porque eu quero desesperadamente que você fique. Não vai embora, sem ter certeza de que não vale a pena insistir, eu prometo, prometo a você que eu nunca mais vou te deixar sair daquela maneira, sem te escutar, sem pedir para você ficar, porque eu preciso que você fique.

- Da mesma maneira que eu preciso ficar.

E então a razão permaneceu e eu também.





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